É senso comum na atualidade que a vítima de preconceito tenha o direito de ter suas sensações e percepções respeitadas quando atacada e que essas percepções devem ser levadas em conta na hora de avaliar um caso de agressão. Não pretendo entrar no mérito jurídico, sobre quando a avaliação é um caso que deve ser tratado pela justiça, mas apenas sobre regras de respeito e de boa convivência. Deixo para os advogados a definição de quando isso extrapola os limites da lei.
No âmbito social, qual a importância da tolerância?
No âmbito social, há pessoas que são mais tolerantes a piadas, ainda que sejam de humor questionável, e outras que não o são. Há pessoas que aceitam ou mesmo reproduzem, elas próprias, piadas sobre sua cor, etnia, gênero, religião etc. Cada pessoa é livre para definir seus limites, os contextos em que as piadas são toleráveis ou mesmo de quem aceita ouvir esse tipo de comentário. Independentemente do que define a lei, no dia a dia, cada um tem a liberdade de definir o que aceita ouvir e o que considera uma agressão.
Como os grupos ou comunidades definem o que é aceitável?
Do ponto de vista de grupos ou comunidades, há definições, feitas pelos próprios membros do grupo, sobre o que é tolerável ou não; sobre o que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo. Por isso temos de ter cuidado ao nos referirmos a grupos de pessoas, quaisquer que sejam, pois há diferença tanto no tratamento entre amigos, colegas e familiares, como na forma como lidamos com grupos e comunidades. Mesmo que alguém individualmente aceite uma piada de humor duvidoso, ao lidar com o grupo, temos de respeitar as sensibilidades do grupo como um todo.
Como a sociedade tem evoluído em relação ao respeito às minorias?
Nos últimos anos, esse conceito tem sido cada vez mais aplicado na forma como a sociedade se comporta, e, com isso, minorias ou grupos minorizados (grupos que, embora sejam maioria na sociedade, são minoria nas posições de liderança e tomada de decisão) têm conseguido cada vez mais apresentar seus pontos de vista, expor suas definições do que consideram aceitável e o que avaliam ser agressivo e até mesmo intolerável. Essa evolução pode ser vista nas relações sociais, na mídia e mesmo nos avanços da legislação.
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Expressões racistas e ofensas a pessoas homossexuais e transexuais não são mais toleradas, e os que nelas insistem são expostos, punidos ou cancelados. Porém, quando uma pessoa age com avareza, é comum ouvir um “deixe de ser judeu”. E o termo “judiar” nunca perdeu a força no vocabulário da Língua Portuguesa.
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Enquanto todos não estiverem (e se sentirem) seguros, ninguém estará.
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É DIRETOR DA FEDERAÇÃO ISRAELITA DE SÃO PAULO (FISESP)
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