A novela envolvendo os problemáticos fundos da antiga gestora Infinity ainda está longe do fim. No último capítulo, os cotistas decidiram, em assembleia, manter o comando dos fundos com a Vanquish, uma gestora formada por antigos sócios e funcionários da Infinity. Como consequência, a RJI, administradora das carteiras, renunciou às funções que exercia.

Se não for encontrado um substituto para o serviço no prazo de 90 dias, o fundo será liquidado e, muito provavelmente, os cotistas perderão todo o valor aplicado. A menos que haja uma reviravolta na trama.

O enredo Infinity tem tudo de pior que pode acontecer no mercado financeiro.

Os problemas envolvem operações irregulares, falhas de controle, incentivos desalinhados, marketing agressivo, informações privilegiadas, morosidade de implementação de decisões dos órgãos de fiscalização, manipulação das emoções dos investidores e exploração de brechas jurídicas.

O resultado, até agora, foi um prejuízo financeiro para milhares de famílias de forma direta ou indireta. E a impressão de que ninguém está imune a golpes, por mais regulado que seja o produto financeiro.

Afinal, as aplicações nos fundos foram feitas pelos canais oficiais e regulares do mercado financeiro. Oferecidas por assessores de investimentos credenciados e intermediadas por instituições renomadas.

Depois que o escândalo ficou evidenciado, todas as normas regulamentares foram rigorosamente seguidas.

Houve o fechamento dos fundos para captação e resgates, reavaliação do preço dos ativos problemáticos embasados por pareceres de auditoria independente, afastamento da antiga gestora e uma proposta para quitar a dívida em aberto.

No entanto, nada disso foi suficiente para resolver o problema dos fundos e ressarcir o prejuízo dos investidores.

Sistematicamente as promessas acabaram sendo descumpridas. Como seria natural, a situação foi gerando desconfiança e pânico entre os investidores.

Isso porque passou a existir um risco cada vez mais concreto de perda de todo o patrimônio investido em um fundo de renda fixa com uma política de investimento conservadora.

Talvez esse temor explique a decisão dos investidores na última assembleia de cotistas. Uma das possíveis reações que podemos ter diante de uma situação extrema é a paralisia.

É difícil esperar decisões racionais num ambiente conturbado. Especialmente quando envolve um grande número de pessoas, como no caso dos cerca de 4 mil investidores nos fundos da Infinity.

A complicação do sistema judiciário brasileiro também ajuda a aumentar as incertezas. Houve uma série de decisões em primeira instância diferentes e, algumas vezes, contraditórias.

A necessidade de modernização da legislação também jogou contra os cotistas, neste caso específico. Na lei antiga existia uma solidariedade entre gestor e administrador. Na atual legislação as atividades são independentes.

O resultado final do caso ainda é incerto

A história dessa novela ainda não acabou e é sempre possível chegar a um bom termo. No entanto, o caso Infinity é emblemático para o setor de fundos de investimento, merecendo ser analisado e constantemente revisitado.

Um ponto fundamental é que não bastam boas regras se elas não forem efetivamente cumpridas e fiscalizadas. Nos últimos anos, os reguladores e representantes do mercado investiram tempo precioso no aprimoramento da legislação sobre os fundos de investimento.

Mas o caso Infinity mostrou que gestores condenados na última instância em processos administrativos continuam podendo exercer suas atividades e captar recursos de investidores comuns, com a intermediação de bancos e corretoras.

Mostrou também que continua existindo um limite para a autorregulamentação. Tanto a Infinity quanto a Vanquish foram descredenciadas como gestoras de recursos, mas os efeitos da decisão foram congelado pelo Poder Judiciário.

É compreensível que os participantes do setor de fundos de investimento não encarem o caso Infinity como um problema. Afinal, foi um caso isolado envolvendo meia dúzia de carteiras num universo de milhares de fundos.

Mas para os investidores e suas famílias, foi uma perda concreta e completamente fora das regras do jogo.