O Tranca-Rua é um espírito muito poderoso presente nas religiões de matriz africana, como a Umbanda e a Quimbanda, que ganhou destaque recentemente nos trending topics do antigo Twitter por conta de uma polêmica envolvendo a cantora Ludmilla durante sua apresentação no Festival Coachella, nos Estados Unidos.

No show, um telão exibiu imagens do cotidiano das comunidades, mas gerou polêmica ao mostrar uma frase polêmica: “Só Jesus expulsa o Tranca-Rua das pessoas”. Representantes de religiões de matriz africana acusaram a cantora de intolerância religiosa, mas ela justificou o uso da frase como uma forma de mostrar as mazelas das comunidades.

O que é o Tranca-Rua?

De acordo com o babalaô Ivanir dos Santos, o Tranca-Rua é um egum na Umbanda, ou seja, um espírito que representa as populações marginalizadas e busca abrir caminhos. Ele é também um Exu que atua tanto na Umbanda quanto na Quimbanda, e seu nome se refere a sua função de abertura de caminhos em todos os aspectos. Sua imagem é de uma pessoa com uma capa, uma cartola e um tridente.

O Tranca-Rua faz parte de uma falange de espíritos, cada um com sua história singular, e é chamado para abrir caminhos e ajudar a resolver problemas de diversas naturezas. Trata-se, portanto, de uma figura muito poderosa e importante para as religiões de matriz africana.

A importância do contexto

A frase polêmica mostrada no telão durante o show de Ludmilla é uma pichação que, segundo o babalorixá de Umbanda Cristiano Sant-Anna de Medeiros, surgiu há cerca de dez anos em diversos lugares, principalmente na Baixada Fluminense e nos subúrbios do Rio, como forma de manifestar o racismo religioso.

Embora a frase possa parecer ofensiva à primeira vista, é necessário entender sua origem e contexto para avaliar seu real significado e evitar estereótipos e preconceitos. Para a professora do programa de pós-graduação em educação da UERJ Stela Guedes Caputo, a frase precisa ser sempre contextualizada e problematizada para que não estimule mais perseguições aos terreiros de Umbanda e Candomblé.

Abertura para o debate

Mesmo com a polêmica envolvendo a cantora Ludmilla, é importante lembrar da importância do Tranca-Rua e de sua função nas religiões de matriz africana. Ao invés de criar um clima de intolerância e perseguição, é preciso aproveitar a oportunidade para abrir o debate sobre o tema e entender melhor sua importância cultural e religiosa.

O Tranca-Rua é uma figura muito importante para as religiões de matriz africana, e deve ser respeitado e valorizado como tal. É necessário conscientizar as pessoas sobre a importância de um diálogo harmonioso sobre religião e cultura, para que cada um possa exercer suas crenças sem preconceito ou intolerância.

Por isso, é fundamental que se faça um esforço para ouvir e aprender com outras culturas e religiões, para construir um mundo mais inclusivo e tolerante. Que possamos enxergar um clarão aberto para o debate e a troca de experiências.

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