O mural de mais de 700 metros quadrados que cobre a fachada do Pavilhão Central (Giardini) na 60ª Exposição Internacional de Arte da Bienal de Veneza conta a história de "kapewe pukeni" (jacaré-ponte) - um mito narrado pelo coletivo indobrasileiro Movimento dos Artistas Huni Kuin (Mahku).
O mural é uma homenagem à cor e às formas de árvores, pássaros, peixes, terras unidas por um gigantesco jacaré. A história do mito é um engano, uma traição de confiança, na origem da separação entre povos e lugares diferentes. Foi realizado por ocasião da Bienal de Veneza, batizada de "Stranieri Ovunque" ("Estrangeiros por toda parte") de 20 de abril a 24 de novembro.
Como era o mito do jacaré-ponte?
Em troca de comida, seu dorso era usado pelos homens para passar de uma terra à outra, mas quando lhe deram de comer um pequeno animal como ele, o jacaré se enfureceu e afundou.
Qual a mensagem do mural?
O mural é uma metáfora às pessoas que se veem tendo que lidar com a separação de suas origens, com o sentir-se "estrangeiro", com estar fora dos esquemas tradicionais de um pertencimento nacional ou de gênero.
Quais são as palavras-chave da mostra curada por Adriano Pedrosa?
"Migração" e "descolonização" são duas das palavras-chave da mostra curada por Adriano Pedrosa, entre os Giardini e o Arsenale de Veneza, antigo estaleiro que abriga mostras da Bienal.
Como a exposição "Stranieri ovunque" se desenvolveu?
A exposição foi articulada através dos trabalhos de 331 artistas, em grande parte externos aos complexos sistemas da arte contemporânea e presentes na Bienal pela primeira vez. "Stranieri ovunque" toma forma assim, no interior de dois núcleos temáticos (Histórico e Contemporâneo) com as obras espaçadas no tempo e falando linguagens artísticas de terras deixadas por tempo demais na periferia, não euro-americanas, com muitos tecidos, pintura, escultura e pouco digital.
Quais artistas são destacados na exposição?
Pedrosa desenvolveu um caminho que dá destaque a artistas queer, muitas vezes ostracizados por seus movimentos entre diferentes sexualidades ou gêneros, outsiders à margem do mundo da arte, indígenas, tratados como "estrangeiros na pátria". Entre eles, há muitos exemplos de ligações familiares, com trabalhos de pais e filhos: por exemplo Fred e Brett Graham, ou Santiago e Rember Yahuarcani.
O novo presidente da Bienal, Pietrangelo Buttafuoco, destacou que a mostra "abriga fragmentos de beleza marginalizada, excluída, punida, cancelada por esquemas de geopensamento dominante". Veneza é berço doce de conhecimento e comunicação entre povos, etnias e religiões e é a praça natural "para classificar novos pontos de vista". Uma sala do Pavilhão Central, no interior do Núcleo Histórico, é reservada aos artistas italianos que trabalharam no exterior, muitas vezes na América Latina.
Com a exposição "Stranieri ovunque", a Bienal de Veneza homenageia povos imigrantes e originários e cria um espaço para novas perspectivas e reflexões sobre questões de migração e descolonização.
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